Como ponto positivo, o retorno da figura masculina ao
papel de grande vilão de uma trama da Globo!
Seja pela ousadia estético-dramatúrgica de 'Avenida Brasil', o refinamento histórico do texto de 'Lado a lado' ou o mote inusitado (e mal desenvolvido) do tráfico humano de 'Salve Jorge', a verdade é que nós, telespectadores, ultimamente estamos sendo mimados com certos arroubos criativos que, de certa forma, conseguem oxigenar a veterana arte de escrever novelas. E, olhando por esse prisma, a estreia de 'Flor do Caribe' pode ser considerada preguiçosa.
Sob o sol do Rio Grande do Norte, a trama de Walther Negrão mostrou, logo de cara, a mão de Jayme Monjardim em sua direção de núcleo: um diálogo estreito com a fotografia da novela, com sequências panorâmicas do deslumbrante litoral nordestino. E, por ali, sobre dunas e ondas, um desfile da mais clássica dramaturgia folhetinesca, sem qualquer brisa de novidade.
A simples mocinha Ester, angariada pelo carisma transcendente de Grazi Massafera, recebe de braços abertos seu amado Cassiano, um Henri Castelli hesitante demais diante de seu extenso currículo. Mas, simultaneamente, enquanto os pombinhos caminham rumo a felicidade, surge a presença do vilão Alberto, amigo de infância de Ester e Cassiano. Um herdeiro playboy que decide assumir os negócios do milionário avô Dionísio (encarnado pelo sempre impecável Sérgio Mamberti) como forma de estar ali por perto do casal protagonista e, assim, conseguir roubar para si a bela Ester, por quem nutre um antigo amor não correspondido.
Por falar no vilão Alberto, o primeiro capítulo de 'Flor do Caribe' deixou indícios do perfil maquiavélico que o personagem do estreante em novelas Igor Rickli terá de assumir. Em suas mãos, o malfeitor pode se tornar um monstro. Basta descobrir se Igor terá cacife para dominar seu primeiro desafio. A primeira impressão foi das melhores.
Voltando ao enredo do folhetim, é preciso também ficar de olho atento a dois personagens que, não sendo bem trabalhados, podem cair na armadilha da caricatura: o ingênuo Candinho (José Loreto), com sua cabra de estimação, e Samuel (Juca de Oliveira), que sofre com um forte trauma remanescente da 2ª Guerra Mundial. A estreia de 'Flor do Caribe' mostrou, sem cerimônia, que os dois atores terão de ser hábeis em suas performances.
Assim como Negrão, experiente novelista que, à primeira vista, decidiu apostar na clássica história praiana à la 'Tropicaliente', também de sua autoria. Ponto positivo para o retorno de um vilão ao centro da história ('Avenida Brasil', 'Lado a lado' e 'Salve Jorge' investiram pesado em vilãs). Mas torcemos todos para que 'Flor do Caribe' demonstre, ao menos, um sopro de ousadia dramatúrgica, sem manter o ritmo preguiçoso exibido em sua estreia. Da abertura aos créditos finais na tela.
Por Pedro Willmersdorf
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